Se a criança nunca ouve “não” …

… ela terá, no mínimo, quatro grandes dificuldades, desencadeadoras de complexas situações nas próximas fases de vida.

A primeira será na Escola. A criança que pode tudo em casa, tende sofrer muito quando chegar à Escola. Algumas ouvem pela primeira vez um “não” lá na Escola. São crianças que não tem hora para dormir, nem para comer, nem para brincar… ou seja, acorda a hora que quer, come o quer, assiste o que quer, dorme a hora que quer e inclusive, seus pais fazem tudo o que ela quer. Estas, ao chegarem à Escola quando percebem que para cada ação tem um tempo, passam odiar estudar. Pensam que Escola é chato porque lá ela não “pode nada”.

A segunda é quando chega na adolescência, período em que pensa ser adulta, acredita estar sempre certa e a socialização, comum à idade, que já é intensa, agitada e muitas vezes fugaz, se complica quando não teve relacionamento familiar por meio do debate, da escuta, do entendimento de que algumas atitudes e comportamentos “não” são adequados. Neste caso, entram numa linha de rebeldia em que pais e professores dificilmente conseguem acompanhar para ajudá-la.

A terceira grande dificuldade ocorre nos relacionamentos amorosos. A convivência nesta fase, para aqueles que nunca ou pouco ouviram “não”, é quase impossível. Se transformam em pessoas que não podem ser contrariadas. Pessoas que esperam que todos estejam à sua disposição e, caso sejam contrariadas, transformam a situação em uma grande batalha, direcionando o relacionamento para o caos.

E por fim, a quarta dificuldade se apresenta no ambiente profissional. Aquelas crianças que nunca ouviram “não”, quando se tornam adultas apresentam comportamentos agressivos ou de vitimização. Não conseguem compreender que para conviver em grupos de trabalho precisam ter o equilíbrio de respeitar a opinião dos colegas de trabalho e aceitar as normas da instituição e dos superiores na hierarquia da empresa. Por nunca terem sido contrariadas, entendem tudo como ofensa. Estas pessoas se enquadram no alarmante dado apresentado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) onde alerta que 70% das demissões estão relacionadas ao “comportamento”.

É pouco provável que uma criança poupada dos choros posteriores aos “nãos” se transforme em um adulto bem sucedido. Crescem “donas da verdade” e em consequência de descobrirem que não são as “donas da verdade” sofrem muito.

E é justamente por isso que reforçamos que dizer “não” é um ato de amor. Sofrimentos nas relações interpessoais e profissionais poderão ser evitadas se quando criança, ouvir, dos pais, “nãos” com amor.

Não é uma tarefa fácil educar uma criança. Porém, o tempo que se dedica a ela nos dez primeiros anos de vida garantirá o sossego pelos próximos todos que virão, pois, uma criança que compreende o significado do “sim” e do “não” cresce emocionalmente equilibrada e consequentemente será feliz e bem sucedida.

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Marli Andrade

Psicanalista, Psicopedagoga e Doutora em Psicologia Social.

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Marli Andrade

Psicanalista, Psicopedagoga e Doutora em Psicologia Social. Autora do Programa de Educação Psicossocial, Motora, Alfabetizadora. Dedica-se exclusivamente à Formação Continuada de Professores e Pedagogos.

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